WannaPlayer em Entrevista à CMtv

A WannaPlayer foi destacada em entrevista do canal de cabo do Correio da Manhã, onde o nosso fundador, João Cabral, explica a génese e o foco do projecto.

Em baixo podem ver a peça jornalística na íntegra.

6 sugestões práticas da abordagem dinâmica da cognição

A análise da percepção e do pensamento do atleta tem sido realizada separada da sua acção. Ora se faz a análise biomecânica do movimento, ora se faz uma análise do que o atleta está a percepcionar, ora se faz uma análise dos processo cognitivos do atleta.

O desporto mostra de forma evidente como a percepção e a acção estão interligadas, como o conhecimento do atleta está na sua própria acção, como o atleta funciona de acordo com o seu contexto. Por exemplo, se se perguntar a um futebolista de nível superior, porque é que decidiu fintar daquele modo um adversário, ele poderá raciocinar sobre isso, mas o que é facto é que o seu comportamento não foi planeado antecipadamente (inclinar o corpo para a direita 23º e depois flectir as pernas 98º, para acelerar a 4 m.s-1 para a esquerda) mas pelo contrário ele emergiu espontaneamente quando o futebolista foi percepcionando diversos comportamentos do seu adversário. Outro futebolista até poderia saber que, o que se faz naquela situação é o que o outro futebolista fez, mas o que é facto é que o de nível superior realiza, ao passo que o de menor nível verbaliza,  ou realiza mas e´facilmente interceptado pelo adversário. Em suma, no desporto é evidente que a percepção é indissociável da acção.

Por outro lado, cada atleta só actua  enquanto tal no contexto do seu desporto, por isso a relação atleta-contexto não pode ser negligenciada. Se  pensarmos nos constrangimentos do sistema atleta--envolvimento podemos incluir a psicologia social no conceito do sistema dinâmico. Alguns meurocientistas tentaram estender a compreensão dos processos psicológicos como a consciência, pensamento, percepção, emoção e memória como acontecimentos partilhados em grupos tribais, familiares e comunitários. Por exemplo, Goerner e Combs (1998) defendem que o cérebro humano não se desenvolve isoladamente, mas numa comunidade de outros cérebros semelhantes. Assim parece que é preciso procurar uma compreensão mais completa dos sistemas sociais, das díades às civilizações, no contexto de sistemas informacionais que construam experiências das mentes dos indivíduos num sistema comunitário dinâmico mais amplo.

Que sugestões podem ser feitas para a prática?

As principais sugestões que podemos fazer para a prática desportiva baseadas nos conhecimentos trazidos pela abordagem dinâmica são:

1. Reduzir a instrução: Focar a instrução especialmente nas questões estratégicas, orientações genéricas das acção ou em questões organizacionais e evitar prescrever o movimento, focando antes os objectivos a atingir com determinada acção.


2. A informação de retorno (feedback) do treinador deve ser essencialmente para motivar, ou para que o aprendiz tenha um novo objectivo para a sua acção (mais rápido, olha à esquerda, mais fluido...) ou que ele próprio encontre esse objectivo, p.ex. através da interrogação.


3. Proporcionar condições contextuais: de reforço positivo (i.e. que possibilitem a obtenção de objectivos progressivamente mais complexos) e propícias a desencadear as acções desejadas, criando facilitadores e constrangimentos contextuais, (ou seja, para ser atingido dado objectivo, o atleta vai realizando as acções mais eficazes para esse mesmo atleta nesse desporto específico).


4. Manter o acoplamento entre a percepção e a acção: A decomposição de uma técnica em elementos mais simples deve respeitar que determinado exercício inclua sempre a percepção de informações às quais devem ser dadas respostas (acções). Por exemplo, no cruzamento de uma bola para a área de baliza, sem haver préviamente um movimento de progressão com bola em corrida, tem um padrão cinemático perfeitamente distinto de quando existe progressão em corrida. Ou seja, o que o atleta treina quando apenas cruza a bola (percepção) , não contribui para a melhoria do cruzamento (que inclui um acoplamento entre a percepção e o deslocamento prévio em corrida de progressão com bola) excepto claro, se estiverem a praticar situações de cobrança de livres.


5. Procurar que a aprendizagem seja descoberta pelo aprendiz, possibilitando que o atleta possa ele próprio buscar, descobrir e explorar soluções para a tarefa proposta.


6. Utilizar a aprendizagem por observação, seguindo os princípios ecológicos e dinâmicos;  como uma estratégia para adquirir habilidades desportivas.

Adaptado de
Araújo, D. 2001 Colectânea de textos Psicologia do Desporto FMH

Como um treinador ajuda a sua equipa?

O treino é importante como acto em si, mas acima de tudo como processo e como meio de atingir um objectivo. É o treino que fundamentalmente  justifica a importância do treinador, que sem a sua presença, os jogadores não conseguiriam retirar os mesmos benefícios e efeitos. Caso não fosse assim, qualquer pessoa poderia dirigir uma equipa num jogo - elegendo simplesmente o onze e fazendo substituições, mas nem todos podem ser treinadores.

Como treinador deves sempre perguntar-te quanto estás a acrescentar à melhoria da tua equipa e dos teus jogadores, comparando esse crescimento com o que eles conseguiriam sozinhos ou com outros treinadores. É nesse diferencial que reside a tua mais valia.

Assim, no final de cada treino, devemos ser conscientes dos aspectos concretos em que incidimos sobre os jogadores, o que melhoraram e o que não poderiam ter feito sem a nossa presença.

A humildade e o reconhecimento pelo treinador dos seus pontos fracos, é o seu primeiro passo para um crescimento profissional. Treinar é uma tarefa que combina ciência, arte, comunicação e conhecimento. Um trabalho complexo que envolve múltiplas condicionantes e que necessita um equilíbrio eficiente, que deve ser constantemente reanalisado sem nunca ter a prepotência de pensar que já tem o domínio total sobre a conjugação de forças necessárias.

O treino como processo incide por um lado na equipa como unidade e por outro lado nos jogadores de forma independente. isto, que à partida parece uma contradição, será uma das principais dificuldades que, como treinador terás de superar, elaborando um planeamento capaz de fazer crescer os teus jogadores, ao mesmo tempo que a tua equipa se torna cada vez mais competitiva.

"TREINO = Ajudar os jogadores a serem melhores, do que poderiam ser por si próprios"

Cientificamente podemos dizer que o treino é um processo pelo qual o jogador é submetido a cargas conhecidas e planificadas . Estas cargas produzem uma fadiga (cansaço) controlada para depois, com os adequados processos de recuperação (descanso), alcançar níveis superiores de rendimento (melhoria)

CANSAÇO + DESCANSO = MELHORIA

Em função de onde e quem treinamos podemos estabelecer objectivos como:

1. Ajudar jovens a divertirem-se


2. Ajudar jovens a crescerem como jogadores e desportistas


3. Desenvolver uma equipa competitiva que procura atingir resultados

Estes objectivos não são necessariamente indissociáveis, mas podem entrar em conflito em função das prioridades que estabelecemos. É muito importante defini-los bem, já que condicionarão em grande medida o planeamento que teremos de fazer.

No caso de um bom treinador de formação deve conhecer a diferença entre os seus objectivos, os da equipa e os dos jogadores. E embora possam ser diferentes, convém que não difiram muito uns dos outros. De facto, os treinadores de êxito encontram formas de alcançar os três objectivos. Assim como norma fundamental devemos assumir que um bom treinador, além de atingir as suas metas pessoais, não deve por elas, colocar em perigo o bem estar e o progresso dos seus jogadores.

2 Áreas que os treinadores devem conhecer sobre os seus Atletas

[caption id="attachment_243" align="aligncenter" width="500"] Mourinho & Drogba[/caption]

Para obter melhor rendimento e também favorecer o equilíbrio do atleta é necessário conhecê-lo o mais completamente possível.

Com base nos ensinamentos da Psicologia Desportiva o treinador pode elaborar o "Dossier do Atleta" que poderá ajudar a estabelecer o seu "Perfil Comportamental" através de 2 áreas principais, a "História do Atleta" e o seu "Perfil Psicológico".

1 - HISTÓRIA DO ATLETA :  Todos os dados biográficos e a sequência da sua evolução, de um modo tão completo quanto possível. Esta "história" compõe-se de três partes.

1.1 - HISTÓRIA FAMILIAR: Dados sobre os Pais ou quem os substitui, irmãos, relações entre eles, dinâmica familiar, etc. a evolução  até à data e a situação presente.

1.2 - HISTÓRIA  ESCOLAR E(OU) PROFISSIONAL: Onde se descreve a evolução dos seus estudos e (ou) da vida profissional, com todos os dados e pormenores mais significativos.

1.3 - HISTÓRIA DESPORTIVA: Registo de toda a evolução, resultados e outros dados importantes.

 

2 - PERFIL PSICOLÓGICO: Registo de resultados obtidos através de testes e outras provas (questionários, inquéritos e dados psico-motores).

  2.1 - Tipos de testes: 

• Factor geral de Inteligência


• Atenção/Concentração


• Rendimento e resistência à fadiga


• Velocidade de percepção


• Memória Auditiva


• Memória Visual


• Personalidade

  2.2 - Tipos de Provas (laboratoriais)

• Tempo de reacção simples: (Os quatro membros e com estímulos visuais e auditivos)


• Tempo de reacção de escolha: (onde a resposta tem de ser dada, decidida, consoante o tipo de estímulo).


• Tempo de decisão: (Que é a diferença entre a reacção de escolha e a reacção simples).


• Lateralidade


• Controlo e precisão de movimentos


• Emocional

Os QUESTIONÁRIOS são geralmente destinados a avaliar alguns aspectos do comportamento do atleta relacionado com o treino e a competição. Um dos momentos mais estudados é o período Pré-Competitivo,  que geralmente influência o comportamento dos atletas durante a competição. Existe um grande conjunto de sintomas perturbadores e reveladores de "stress", medo e ansiedade (que vão desde a simples dor de barriga, ao desmaio e ao bloqueio total) que podem ser estudados em colaboração com o atleta, (através de questionários já elaborados e validados), de modo a serem objecto de uma acção ou treino psicológico que permite reduzir ou eliminar o seu efeito. Também é usual recorrer ao Relato Verbal ou Escrito do atleta, que descreve tudo o que sentiu e comparar esse relato com observações feitas pelo psicólogo e pelos técnicos.

Essas observações são também muito importantes para estudar o Período Competitivo onde já não é possível analisar o atleta tão bem, e em que é possível detectar um conjunto de comportamentos que podem ser modificados para melhorar o rendimento. O período Pós-competitivo, a reacção face ao resultado, a vitória ou a derrota, também podem ser estudados.

É habitual estudar também os DADOS SOCIOMÉTRICOS, isto é, relativos à posição e influência do atleta no seu grupo.

Este conjunto de dados (História, Perfil Psicológico, Provas Específicas, Questionários, Observações, Dados Sociométricos), contribuem para organizar de uma forma dinâmica o Dossier do Atleta, e, na posse de um conhecimento tão profundo quanto possível das suas características e comportamentos, contribui para a sua melhoria do ponto de vista desportivo e para o seu equilíbrio do ponto de vista humano.

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