sábado, 12 de outubro de 2013

6 sugestões práticas da abordagem dinâmica da cognição

jovens jogadores

A análise da percepção e do pensamento do atleta tem sido realizada separada da sua acção. Ora se faz a análise biomecânica do movimento, ora se faz uma análise do que o atleta está a percepcionar, ora se faz uma análise dos processo cognitivos do atleta.

O desporto mostra de forma evidente como a percepção e a acção estão interligadas, como o conhecimento do atleta está na sua própria acção, como o atleta funciona de acordo com o seu contexto. Por exemplo, se se perguntar a um futebolista de nível superior, porque é que decidiu fintar daquele modo um adversário, ele poderá raciocinar sobre isso, mas o que é facto é que o seu comportamento não foi planeado antecipadamente (inclinar o corpo para a direita 23º e depois flectir as pernas 98º, para acelerar a 4 m.s-1 para a esquerda) mas pelo contrário ele emergiu espontaneamente quando o futebolista foi percepcionando diversos comportamentos do seu adversário. Outro futebolista até poderia saber que, o que se faz naquela situação é o que o outro futebolista fez, mas o que é facto é que o de nível superior realiza, ao passo que o de menor nível verbaliza,  ou realiza mas e´facilmente interceptado pelo adversário. Em suma, no desporto é evidente que a percepção é indissociável da acção.

Por outro lado, cada atleta só actua  enquanto tal no contexto do seu desporto, por isso a relação atleta-contexto não pode ser negligenciada. Se  pensarmos nos constrangimentos do sistema atleta--envolvimento podemos incluir a psicologia social no conceito do sistema dinâmico. Alguns meurocientistas tentaram estender a compreensão dos processos psicológicos como a consciência, pensamento, percepção, emoção e memória como acontecimentos partilhados em grupos tribais, familiares e comunitários. Por exemplo, Goerner e Combs (1998) defendem que o cérebro humano não se desenvolve isoladamente, mas numa comunidade de outros cérebros semelhantes. Assim parece que é preciso procurar uma compreensão mais completa dos sistemas sociais, das díades às civilizações, no contexto de sistemas informacionais que construam experiências das mentes dos indivíduos num sistema comunitário dinâmico mais amplo.

Que sugestões podem ser feitas para a prática?

As principais sugestões que podemos fazer para a prática desportiva baseadas nos conhecimentos trazidos pela abordagem dinâmica são:

  1. Reduzir a instrução: Focar a instrução especialmente nas questões estratégicas, orientações genéricas das acção ou em questões organizacionais e evitar prescrever o movimento, focando antes os objectivos a atingir com determinada acção.

  2. A informação de retorno (feedback) do treinador deve ser essencialmente para motivar, ou para que o aprendiz tenha um novo objectivo para a sua acção (mais rápido, olha à esquerda, mais fluido...) ou que ele próprio encontre esse objectivo, p.ex. através da interrogação.

  3. Proporcionar condições contextuais: de reforço positivo (i.e. que possibilitem a obtenção de objectivos progressivamente mais complexos) e propícias a desencadear as acções desejadas, criando facilitadores e constrangimentos contextuais, (ou seja, para ser atingido dado objectivo, o atleta vai realizando as acções mais eficazes para esse mesmo atleta nesse desporto específico).

  4. Manter o acoplamento entre a percepção e a acção: A decomposição de uma técnica em elementos mais simples deve respeitar que determinado exercício inclua sempre a percepção de informações às quais devem ser dadas respostas (acções). Por exemplo, no cruzamento de uma bola para a área de baliza, sem haver préviamente um movimento de progressão com bola em corrida, tem um padrão cinemático perfeitamente distinto de quando existe progressão em corrida. Ou seja, o que o atleta treina quando apenas cruza a bola (percepção) , não contribui para a melhoria do cruzamento (que inclui um acoplamento entre a percepção e o deslocamento prévio em corrida de progressão com bola) excepto claro, se estiverem a praticar situações de cobrança de livres.

  5. Procurar que a aprendizagem seja descoberta pelo aprendiz, possibilitando que o atleta possa ele próprio buscar, descobrir e explorar soluções para a tarefa proposta.

  6. Utilizar a aprendizagem por observação, seguindo os princípios ecológicos e dinâmicos;  como uma estratégia para adquirir habilidades desportivas.


Adaptado de
Araújo, D. 2001 Colectânea de textos Psicologia do Desporto FMH

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